É a pergunta que inaugura o capítulo de mesmo nome, “Can you bear it?”, escrito pelo analista junguiano Murray Stein para o livro “Psychedelics and Individuation: Essays by Jungian Analysts”.
Existe uma preocupação legítima de alguns profissionais da Psicologia Junguiana de que experiências psicodélicas sejam mais intensas do que aquilo que a pessoa consegue sustentar. Já ouvi colegas trazerem o receio de haver uma psicotização provocada por essas experiências - o tal do “fulano foi e nunca mais voltou”. Mas quando se “vai”, para onde se tem a expectativa de “voltar”?
A experiência psicodélica acontece dentro, então sempre se vai e se volta de um lugar a outro dentro - lembrando que o termo “psicodélico” significa nada menos do que “manifestação da alma, da psique”. É como um sonhar mais profundo, onde as fronteiras entre inconsciente e consciência se estreitam, as imagens arquetípicas ganham vida, os mundos se fundem, o numinoso se manifesta, o ego perde uma parte considerável de suas defesas, a sombra é colocada no palco, o dragão que mora nas profundezas é atravessado e os tesouros que ele guarda podem ser encontrados.
É verdade que em um processo de análise esse contato com o profundo da alma é feito respeitando a estrutura da pessoa, as defesas do ego, do quando ela é capaz de acessar e sustentar naquele momento. Já com um psicodélico, os processos internos podem ser catalisados, e tudo pode acontecer de maneira tão intensa que há a sensação de que o ego se dissolveu no caldeirão fervente da psique. Ainda assim, em experiências psicodélicas seguras, normalmente a pessoa só vai até onde ela consegue.
Para todos os efeitos, vale sempre a pena perguntar: você consegue suportar? Quais são os recursos internos que você já possui para viver essa experiência da maneira mais saudável possível?
Pode ser que o psicodélico não seja para você, ou pode ser importante fazer uma preparação e uma integração com profissionais capacitadas para isso.
“A verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar?”
(Irvin Yalom em “Quando Nietzsche Chorou”).
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