Quando Hermann Hesse enviou sua obra Demian para Carl Gustav Jung, este o escreveu uma carta, que revela bastante do impacto dessa obra para a Psicologia Junguiana:
"Prezado Senhor Hesse,
Devo agradecer-lhe de coração o livro magistral e verdadeiro Demian. É indiscrição e impertinência de minha parte romper o seu pseudônimo, mas quando li o livro tive a impressão de que ele me chegou via Luzerna. Não o reconheci nos esboços de Sinclair no NZZ, mas sempre me perguntei que tipo de pessoa seria esse Sinclair, pois a psicologia dele me parecia bem especial. Seu livro chegou num momento em que eu estava de novo oprimido pela consciência obscurecida do homem moderno e por sua teimosia sem esperança, como se apresentava o pequeno Knauer a Sinclair. Por isso o seu livro exerceu sobre mim o efeito da luz de um farol em noite tempestuosa.
Como toda vida humana bem-vivida, um bom livro deve ter fim. O seu tem o melhor dos fins, onde tudo o que passou tem realmente um fim e onde tudo recomeça, com o qual começou o livro, isto é, com o nascimento e o desenvolvimento do homem novo. A grande Mãe ficou grávida da solidão daquele que procura. Ela deu à luz (na explosão da granada) o homem velho para a morte e implantou no novo a mônada eterna, o mistério da individualidade. E assim como reaparece o homem renovado, também reaparece a Mãe — numa mulher sobre a terra.
Poderia conta-lhe um pequeno segredo sobre Demian do qual o senhor se tornou testemunha, mas cujo sentido o senhor escondeu do leitor e talvez de si mesmo. Poderia dar-lhe algumas informações satisfatórias sobre isso, pois sou amigo de Demian há muito tempo e ele me iniciou recentemente em seus assuntos particulares — sob o selo da mais profunda descrição. Mas o senhor terá confirmada esta alusão no decorrer dos anos.
Espero que não pense que estou querendo me tornar interessante fazendo mistérios; meu amor fácil é sagrado demais para fazer isso. Queria apenas por gratidão, mandar-lhe o pequeno presente de minha grande consideração diante de sua lealdade e veracidade, sem as quais não se pode ter intuições tão pertinentes. Talvez o senhor adivinhe a passagem de seu livro que eu refiro.
Providenciei imediatamente um exemplar de seu livro para nossa biblioteca do clube. Ele é saudável em todos os sentidos e conduz ao caminho.
Não leve a mal minha invasão. Ninguém sabe disso.
Com elevada consideração e agradecimento cordial de C. G. Jung"
JUNG, C. G. Cartas de C. G. Jung - Volume I - 1906-1945

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